Pesquisar este blog

domingo, 11 de junho de 2017

Renato Rabelo no 3o Salão do Livro Político: Que fazer? Socialismo ou Barbárie?

Renato Rabelo

O 3o. Salão do Livro Político encerrou-se com a mesa Que fazer? Socialismo ou Barbárie?, no Tucarena, teatro da PUC paulistana. O encontro de Renato Rabelo (PCdoB), Ciro Gomes (PDT), Márcio Pochmann (PT) e Juliano Medeiros (Psol), representantes de quatro partidos de esquerda, com mediação de Rosane Borges, se deu no dia 8 de junho de 2017, coroando um debate sobre o ciclo de governos progressistas no Brasil e o golpe neoliberal que o país enfrenta. Assista o debate em imagens da TV PUC.
Foto: Cezar Xavier
Acabou nesta quinta-feira (8), o III Salão do Livro Político, após quatro dias de intensos debates e muito movimento nos estandes de editoras que apresentaram seus lançamentos!
Confira a gravação do debate de encerramento, com Ciro Gomes, Marcio Pochmann, Juliano Medeiros, Renato Rabelo e Rosane Borges (mediação), refletindo sobre os impasses e os horizontes da esquerda diante da atual crise política.
RENATO RABELO foi presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) por mais de 13 anos e é o atual presidente da Fundação Maurício Grabois, desde abril de 2016. Sua militância teve início no movimento estudantil, quando ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Neste período, integrou a Juventude Universitária Católica (JUC), e, logo após, a Ação Popular (AP). Em 1966, foi eleito vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Participou ativamente da luta de oposição à ditadura militar, tendo ingressado no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1972. No exílio, viveu em Paris. No final de 1979, com a Anistia, retorna ao Brasil e realiza intenso e ininterrupto trabalho na construção orgânica e ideológica do Partido, como membro de seu Secretariado. No 10o Congresso do PCdoB, em 2001, por indicação de João Amazonas, líder histórico dos comunistas, Rabelo foi eleito presidente da legenda. Participou das coordenações das cinco campanhas de Lula, desde 1989, e também das campanhas da presidenta Dilma Rousseff. No segundo mandato do presidente Lula, passou a integrar o Conselho Político do Governo da República. Na gestão de Renato Rabelo à frente do PCdoB se destacam, entre outras realizações, o Programa Socialista, que representou uma importante atualização do pensamento programático dos comunistas brasileiros. Já com o documento “PCdoB 90 anos”, o Partido fez uma nova síntese de sua própria trajetória histórica, corrigindo abordagens parciais, até então existentes.
MARCIO POCHMANN é professor do Instituto de Economia da Unicamp. Seu livro “Nova classe média?”, publicado pela Boitempo em 2012 foi finalista do prêmio Jabuti 2013. No período de 2001 a 2004, em São Paulo, Pochmann dirigiu a Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade durante o governo da prefeita Marta Suplicy. Foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2007 e 2011. Nas eleições 2012, Marcio Pochmann foi o candidato do PT à Prefeitura de Campinas. Seu livro mais recente é O mito da grande classe média, publicado pela Boitempo em 2014.
JULIANO MEDEIROS é presidente da Fundação Lauro Campos, doutorando em ciência política pela Universidade de Brasília e organizador da coletânea de ensaios “Cinco mil dias: O Brasil na era do lulismo” (Boitempo), co-organizada com Gilberto Maringoni.
CIRO GOMES é advogado e professor universitário. Foi deputado estadual e federal pelo Ceará, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, Ministro da Fazenda (1994-1995) e Ministro da Integração Nacional (2003-2006). Desde 2015 trabalha na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). É vice-presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e um dos autores do livro de intervenção “Por que gritamos Golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil”, publicado pela Boitempo em 2016.
Debate sobre os rumos da esquerda:
(por Célia Demarchi e Cezar Xavier)
Juliano Medeiros sugere que as esquerdas têm de fazer um balanço critico dos anos de governo de esquerda, e construir um programa a partir dos limites e dos avanços, uma agenda política estratégica, e não simplesmente um programa partidário. “O último programa de desenvolvimento criado pela esquerda foi o Programa Democrático e Popular do PT, que já tem 30 anos. Precisamos atualiza-lo e incorporar a nova agenda política, superando racismo, machismo, por exemplo, que ainda identificamos na esquerda”.
Marcio Pochmann enxerga a crise brasileira inserida na crise global do capitalismo deflagrada em 2008, que vem derrubando dramaticamente tanto os ativos financeiros quanto o comércio internacional. Internamente criou-se um caos que sinaliza o fim de um ciclo de desenvolvimento comparável ao que resultou no projeto de desenvolvimento de Getúlio Vargas, que fez o país dar um salto formidável, porém sem desbancar o poder agrário, apesar da imensa e rápida concentração urbana produzida no período. O que fazer? “A América Latina pode se transformar numa espécie de Oriente Médio. Ou seguir a perspectiva de globalização inclusiva, como fez a China. A saída não será uma saída tradicional”.
Renato Rabelo enxerga no golpe parlamentar o realinhamento do país pelos golpistas ao capitalismo internacional, que demandam a derrubada da Constituição Cidadã de 1988. Ele ressalta que a transição na base material de produção em todo o mundo, diante da crise econõmica, não será entendida se não considerarmos a penetração do seu impacto em todos os âmbitos, inclusive na práxis partidária. O rebaixamento na consciência de classe é também parte dessa transição em que revoluções industriais transformam as relações de trabalho.
“O debate de um novo projeto de país é fundamental e tem de considerar a luta tanto contra o neoliberalismo quanto contra o colonialismo. Daí pode emergir até um novo modelo de sociedade, inclusive um modelo socialista”. Rabelo considera o capitalismo superado, por aprofundar a desigualdade numa base material gigantesca que poderia estar a serviço da humanidade. O capitalismo só se mantém ideologicamente forçando sua persistência nas mentalidades, embora na base material não se sustente mais.
Como parte dos governos progressistas que estiveram no centro do poder, o PCdoB considera importante um balanço em que se entenda as ilusões que levaram a esquerda a não entender a composição do estado brasileiro. “Mas já vou dizendo que não é fácil fazer síntese para um balanço!” Criticou o fato do desenvolvimento brasileiro estar baseado em exportação de commodities. A primarização e a base de serviços sem uma indústria à altura é considerado por Rabelo um atraso.
O dirigente comunista observa que o debate sobre o programa nacional para o país só se dá durante as eleições presidenciais. Portanto, 2018 será muito importante para a esquerda mostrar seu programa em oposição ao que vem sendo implementado pelo golpe. Defende a bandeira das “Eleições Diretas, Já”, ou em 2018, mesmo acreditando que as perspectivas diante do golpismo não são animadoras.
Ciro Gomes considera que é preciso “recelebrar” a ideia de projeto nacional de desenvolvimento, mas pontua que isso fará emergir conflitos e antagonismos, já que é urgente enfrentar a pobreza , entre outras questões prementes, pois só se consegue redistribuir renda tirando de quem tem mais. Ele, por isso, reflete sobre o crescimento econômico, que relativiza essa tensão, reduzindo a pressão por retirada de direitos ( custos para o capital). Mas, para ele, o antigo modelo de produzir desenvolvimento com distribuição de renda morreu. “Vejo fecundidade nesse caos. Mas as coisas podem piorar muito se continuarmos a adiar eternamente a reflexão. Precisamos por um ponto final na apologia da ignorância. O mundo acadêmico precisa estar em linha, dar suporte a esse processo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário