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quarta-feira, 12 de abril de 2017

“Partidos são indispensáveis, a não ser que abdiquemos da democracia”

Portal Vermelho
12/04/2017

Não é de hoje que o Brasil enfrenta a campanha antipolítica, que se aprofundou com a deflagração da Operação Lava Jato. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o cientista político Fabio Wanderley Reis manifestou preocupação com o atual momento político e reforçou a importância dos partidos políticos para a democracia.


Foto: Élcio Alves/RAC
 
“Não podemos prescindir dos políticos e dos partidos. Não existem alternativas reais a não ser que abdiquemos de fazer democracia e comecemos a acreditar, a exemplo do que certos extremistas sustentam, que devemos passar o comando para os militares. Não sou contra punir a corrupção. O desejável seria que pudéssemos separar o joio do trigo, punindo os corruptos, mas reconhecendo os partidos como algo indispensável”, disse.

Segundo ele, o resultado da divulgação dos nomes de lideranças políticas alvo de inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal), autorizada pelo ministro Edson Fachin, é “imediato é muito negativo, porque instaurou um clima amplamente antipolítico no país”.

“A Operação Lava Jato vem sendo conduzida de uma maneira que coloca em suspeição a vida política. Existe a perspectiva de um ganho mais profundo ao apurar crimes contra gente que normalmente tende a ficar impune. Mas ainda não está claro se vamos chegar a esse saldo positivo”, salientou.

“Em nome de preservar a soberania popular, não podemos deixar cada um por si só. O indivíduo isolado não pode ser o protagonista da política”, enfatiza.

De acordo com Wanderley, a atividade política e as instituições estão funcionando sob suspeição, sem a qual não vamos poder administrar o país, criando um clima de terra arrasada. “Você destrói tudo sem colocar nada no lugar”, frisa.

Segundo ele, um dos fatores que desencadearam a atual situação foi a polarização política. “Nunca tivemos algo parecido com o ódio que vivemos neste momento. Nem mesmo na mobilização anticomunista que culminou no golpe de 1964. A relação desse ódio com a Lava Jato é inequívoca”, argumentou.

Para o cientista político, a saída não é liquidar os partidos, “desmoralizando a própria ideia da existência de partidos que vamos resolver a situação”.

“Como isso vai acabar? Nós vamos ficar esperando a Lava Jato e seus numerosos desdobramentos? Como vai ser o processo eleitoral que teremos daqui para frente?
Como vamos construir partidos consistentes com essa caça desabrida a corruptos em que se transformou a política nacional? É desalentador”, indaga.

Questionado se esse clima de descrença na política pode impulsionar candidaturas de salvadores da pátria em 2018 da extrema direita, Wanderley Reis afirma: “Já tem ocorrido um apoio surpreendente para essas figuras. Isso surge com um subproduto da psicologia odienta que estamos vivendo e do clima exageradamente purista em relação à política. Acabamos compondo um caldo de cultura com vários aspectos negativos”.

Sobre o financiamento de campanha, raiz dos fatos apontados pelas investigações da Lava Jato, Reis destaca que o financiamento público de campanha, combinado com o privado, seria uma alternativa. “Ficou patente que o financiamento privado sem limites leva empresas a comprar por atacado sucessivos governos, influenciando na aprovação de medidas provisórias. Logo, precisamos do financiamento privado de maneira adequada, por exemplo, feito pelos cidadãos individuais e autorizando limites fixados em termos absolutos”, defendeu.


Do Portal Vermelho, com informações da Folha de S. Paulo

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