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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Meritocracia, sucesso e outras balelas

Revista Forum 

Por Leopoldo Duarteabril 11, 2015 21:23

Meritocracia, sucesso e outras balelas

Nessa última semana tive uma conversa com um jovem direitista negro, cujo sonho, apesar de cursar arquitetura, é de “trabalhar muito e construir algo como o Magazine Luiza”. [Pausa pro suspiro]. Conversa vai, desinformação vem e depois dele argumentar a favor da meritocracia perguntei: “Você gostaria de trabalhar no Magazine Luiza?”. E, recebi como resposta um sonoro “NÃO!”. Imagino até que acompanhado de três batidinhas na madeira. Quem diria?! A mesma pessoa que minutos antes enaltecia a gestão e empreendedorismo da Luiza reagiu com indignação à sugestão de fazer parte dessa “equipe vencedora”. E antes que alguém venha me dizer que é porque não haveria nada da área dele e loro blá blá. Que se tornando arquiteto ele deveria ter outros interesses, peço que me responda: a negativa seria tão imediata se eu tivesse mencionado a Microsoft ou o BNDES? Acho muito pouco provável. Tentarei explicar porquê.

No mundo dos negócios e do empreendedorismo, gigantes como o McDonald’s, o Walmart ou a nossa Contax são cases de sucesso. Exemplos a serem seguidos e frutos de muita persistência e trabalho individuais, geralmente, atribuídos a quem teve a ideia original. O que me leva a pergunta: seriam os megaempresários atuais os Da Vincis do nosso tempo? Seriam todos eles dotados de uma inteligência sobrenatural que os tornam capazes de grandes feitos sem a ajuda de ninguém? Porque enquanto uma fábrica funciona sem a presença do dono, o dono sem funcionários quase nada produz. Então, de que serviria uma excelente ideia sem um grupo empenhado a torná-la realidade? Se Michaelangelo tivesse que plantar, colher e preparar o que comia e depois se preocupar com a louça, muito provavelmente, não teríamos a Cistina, e isso não impediria a humanidade de seguir em frente.

Segundo o discurso da meritocracia o trabalho liberta o homem, mas parece que só os responsáveis pelo conceito matriz desfrutam dessa liberdade. Todos os demais envolvidos no projeto permanecem condenados a servir de apoio. Parece que o único trabalho libertador nesse discurso liberal é o de dono do negócio, cabendo aos trabalhadores que sustentam e dão andamento aos negócios a gratidão perpétua por proporcionar o enriquecimento alheio. Falam que isso é porque funcionários são substituíveis, mas se esquecem que o tão louvado Steve Jobs não levou consigo o futuro da Apple.

Ainda de acordo com essa perspectiva, que tanto insiste no potencial empreendedor em cada um de nós, mas pouco questiona sobre o que seria do mundo caso todo gari, garçom, secretária, motorista, atendente etc. passassem a investir em seus próprios pequenos negócios. Isso sem dizer que não existe mercado que desse conta de tamanha oferta. Ou seja, aqueles mesmos que defendem a chance individual de sucesso, se esquecem que não existe qualidade de vida quando ninguém presta esses serviços fundamentais. Mesmo assim, esses trabalhadores são considerados merecedores de uma fatia menor do chessecake sob o argumento de que tais tarefas exigem menos instrução. Contudo, numa mesa de cirurgia, por exemplo, de que valem três pós doutorados em medicina sem uma equipe de limpeza competente? Essa ideia de que um profissional é mais igual e digno do que outros, de pouco serve pra quem argumenta que só trabalhando se vence na vida.

Se meritocratas realmente acreditam que todos temos as mesmíssimas oportunidades porque todos se empenham em fugir de um início humilde? Se só o esforço é suficiente para subir na vida não seria mais louvável começar sempre por baixo? Se trabalhar por si é tão edificante, por que alguns empregos são tão rechaçados? Complicado, né? Pra ser sincero considero bastante confuso imaginar que apesar da vida em sociedade comprovar que todos dependemos de estranhos – para comermos, nos banharmos, dormirmos em segurança, nos divertirmos etc. -, seja tão difícil consideramos que todos temos o nosso valor. Porque embora um bom médico salve vidas, idealmente, ele não nos é necessário tão frequentemente quanto um gari ou um vendedor de loja. Por que então a distribuição de recompensas são tão desproporcionais?

Sinto informar, mas o rapaz com quem iniciei essa discussão preferiu encerrá-la sem me fornecer respostas. Alegando que ganharia mais estudando para se tornar um profissional de renome. Achei essa falta de consideração um pouco egoísta, afinal toda crença que nos conforta merece ser propagada. Porém talvez eu ainda não seja merecedor...

De toda forma é interessante perceber que quando se torna público atitudes positivas com seus funcionários de empresas como o Google ou do nosso setor público todos se admiram, mesmo sem termos como julgar se todos mereceriam reconhecimento ou não. Vai entender…

Leia a coluna O Posto todo sábado, aqui em Os Entendidos, e não esqueça de curtir a nossa página.

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