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sexta-feira, 7 de março de 2014

Urariano Mota debate racismo e os novos escravos do Brasil

Do Portal Vermelho

07/03/2014

Direto de Olinda, em Pernambuco, o escritor e jornalista Urariano Mota reflete sobre o racismo, os novos escravos os Brasil. Durante sua reflexão, Urariano traça um paralelo entre o "12 anos de escravidão" e pensamento de Gilberto Freyre. 

Da Rádio Vermelho em São Paulo


A partir de uma análise crítica, o colunista daRádio Vermelhonarra cena que presenciou na última sexta-feira (28), que antecedeu o carnaval. "Na fila do cinema aonde fui, não havia um só negro. Minto: havia só este mulato que agora escreve. Ao procurar outro na fila, recebi dos cidadãos de pele mais clara uns olhos envergonhados, que se baixavam até o chão. Tão Brasil. Tão brasileiro é o pudor educado para o que não se enfrenta. Mas o filme na tela nos pagaria. Lá, podemos ver o retrato da casa-grande: a indiferença de todos ante a tortura. Linda, a sinhá olha da varanda o negro ser torturado e nada vê, melhor, assiste ao espetáculo obsceno como uma liberalidade do senhor, o seu marido. Que aula. É um filme quase didático da infâmia, do que no Brasil está encoberto até hoje".
Segundo ele, "a realidade no filme mostra um escravo na forca, pendurado por horas em uma árvore, enquanto a rotina da fazenda segue sem distúrbio, sem assaltos de horror ou de repulsa. Mas isso é tão Brasil, amigos. Hoje mesmo, aqui na minha cidade, na sua, jovens são amarrados em postes, os velhos pelourinhos. Os novos escravos são espancados, enquanto comunicadores na televisão aprovam e ganham dinheiro e fama por açular a massa para o linchamento".



Gilberto Freyre, em Casa e Senzala


Urariano lembrou que foi em Gilberto Freyre que a ideia de uma escravidão suave no Brasil ganhou sua expressão mais conhecida e influente. Já em sua tese de mestrado, apresentada em 1922 nos Estados Unidos, ele afirmava: "Na verdade, a escravidão no Brasil agrário-patriarcal pouco teve de cruel. O escravo brasileiro levava, nos meados do século XIX, quase vida de anjo, se compararmos sua sorte com a dos operários ingleses, ou mesmo com a dos operários do continente europeu, dos mesmos meados do século passado." (Freyre, 1964 [1922]:98).

"Para Freyre, teriam prosperado as atitudes benignas dos senhores em relação aos escravos. "Era demorando numa casa, numa fazenda ou numa estância, afeiçoando-se a uma família ou a um senhor, que o escravo se fazia gente da casa, pessoa da família." E demorando em velhas propriedades, que passavam solidamente de geração em geração, sem que seus proprietários desejassem ou buscassem grandes mudanças ou enriquecimento rápido", afirmou Urariano Mota.

Ouça a reflexão de Urariano Mota na Rádio Vermelho:

Coluna Prosa, Poesia e Política  

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