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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Fuga do senador boliviano: "é tudo um jogo de política interna"

Em entrevista à Carta Maior, o ex-secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães analisa o episódio da fuga do senador boliviano, que acabou provocando a demissão do ministro Antônio Patriota. 

Para Guimarães, trata-se de "um jogo de política interna". "Essas pessoas acham que o governo do presidente Evo Morales não é sequer democrático, quando ele foi eleito com maioria enorme. 

São conservadoras e acham que a ascensão dos trabalhadores, dos índios, dos negros nos países da América Latina é algo preocupante para eles". Por Najla Passos.


Brasília - Em entrevista à Carta Maior, o ex-secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães analisa o episódio da fuga do senador boliviano, que acabou provocando a demissão do ministro Antônio Patriota. Para Guimarães, trata-se de "um jogo de política interna". "Essas pessoas acham que o governo do presidente Evo Morales não é sequer democrático, quando ele foi eleito com maioria enorme. São conservadoras e acham que a ascensão dos trabalhadores, dos índios, dos negros nos países da América Latina é algo preocupante para eles".

CM: Qual é o contexto latino-americano em que se dá a fuga do senador para o Brasil?

Samuel Pinheiro Guimarães - É um contexto razoavelmente claro. De um lado você tem governos de esquerda, em diferentes graus e características, que são os governo do Brasil, da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, do Equador e da Bolívia. De outro lado você tem governos que podem ser situados como do centro para a direita, como o do Chile, o do Peru que, apesar de ter sido eleito com grandes perspectivas, na realidade se mostrou um governo aliado às teses da direita, e o governo da Colômbia. Não é por coincidência que estes governos se unem ao México para formar a chamada Aliança do Pacífico, que se coloca claramente em oposição ao Mercosul. E isso se reflete no cenário interno brasileiro, onde você tem os partidos de centro-direita que se aliam com esses governos de direita, que se desdobram em elogios ao Chile, à Colômbia, elogiam até o Paraguai. E criticam a Venezuela, o Evo Morales, e aproveitam todas as oportunidades para fazer esse embate. Essa situação atual se coloca neste contexto. O senador Roger Pinto pertence a um partido de direita.

CM: E qual é o papel dele na política boliviana, nessa oposição sistemática ao presidente Evo Morales?

SPG: Ele tem um papel de destaque, acusando o Evo de narcotraficante e assim por diante. Ele responde a processos por corrupção e já foi condenado por um. Então, resolveu criar um fato político. Que eu saiba, não há nenhum outro político boliviano na cadeia. Pelo menos, os jornais não publicam isso. Não vejo nenhum jornalista preso na Bolívia. 

CM: Não há um quadro de perseguição política geral naquele país?

SPG: Não vejo isso. Os jornais que normalmente são aliados com estes governos de centro-direita, imediatamente publicariam. Esse senador resolveu pedir asilo ao governo brasileiro para criar um problema político para os governos da Bolívia e do Brasil, que mantêm estreitas relações. Governos que ele, sendo de direita, faz oposição.

CM: Foi um erro do Brasil aceitar o pedido de asilo?

SPG: Eu não vou julgar as posições do Brasil. Quem aceitou o asilo foi o embaixador da época [Marcel Biato]. Essas questões são complexas. Eu não estou na Bolívia para julgá-las. De toda forma, creio ter sido uma medida precipitada, porque isso envolve um julgamento sobre as acuações que pesam contra o senador e sobre o presidente da Bolívia. 

CM: Já houve algum episódio similar na política externa brasileira?

SPG: Que eu conheça não. Você tem o asilo territorial, quando a pessoa entra no território e pede asilo, e o diplomático, que é dado nas embaixadas, até nos navios de guerra. Nesse último caso, o mais recente que me lembro é o do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, que tinha sido deposto, vítima de um golpe de estado e se asilou na embaixada brasileira. 

Um caso totalmente distinto, até porque, depois, a situação em Honduras se revelou gravíssima, com dezenas de jornalistas assassinados, sem que a grande imprensa aqui se preocupasse em nenhum momento com isso. No caso do senador Roger Pinto, há pessoas que imediatamente passam a criticar o governo do presidente Evo Morales que, no caso, não tem responsabilidade nenhuma, diga-se de passagem. O senador estava na embaixada do Brasil sob os cuidados da embaixada do Brasil. Não estava numa prisão boliviana. Portanto, ele não estava passando por maus-tratos em uma prisão boliviana. 

Normalmente, nas embaixadas, os exilados são tratados com toda consideração, com razoável conforto. A ideia de que o exilado não pode tomar banho de sol é algo que depende das decisões do embaixador ou do encarregado, na ausência do embaixador. Não são exigências do governo boliviano. O que a imprensa faz parecer é que o governo boliviano estivesse maltratando o senador Roger. Não é o caso. Aliás, a aparência do senador Roger Pinto é muito boa. Eu me congratulo porque ele apresenta ótimas condições de saúde. Não parece estar em condições de privação. Suponho eu que sempre serviram todas para ele as refeições... a aparência dele não é a de alguém que esteja passando fome.

CM: É pertinente a crítica de que a Bolívia deveria ter concedido um salvo-conduto para o senador?

SPG: O direito de asilo diplomático é uma instituição latino-americana. Não é reconhecida pelo direito internacional, diferente do asilo territorial. E nessa convenção latino-americana [a Convenção de Caracas, de 1954], os países que estão obrigados a seguir suas disposições, são os que assinaram a convenção. A Bolívia não signatária dessa convenção e não tem nenhuma obrigação de segui-la, de dar salvo-conduto. Aliás, nem considera que ele seja um asilado político. Então, não tem porque dar. O senador poderia perfeitamente abrir a porta e sair à rua, nada o impedia. O que se está criando é uma situação de política interna para criar dificuldades para a presidenta, para o Itamaraty, para criticar o Itamaraty por uma razão ou por outra, por ter dado asilo ou por não ter dado asilo.

CM: O senhor acredita que foi uma ação orquestrada pela direita?

SPG: Não, mas acho que a direita sempre aproveita esses momentos. Eu nunca ouvi falar que nenhuma dessas pessoas que defendem o senador estivessem preocupadas, por exemplo, com os presos em Guantánamo, que estão lá há dez anos sem culpa formada e sem advogados. Todas essas pessoas agora extremamente preocupadas com os direitos humanos não emitem uma única opinião em defesa desses presos. Nem vejo elas reivindicarem salvo-conduto para Julian Assange, que está exilado na embaixada do Equador em Londres. É tudo um jogo de política interna. Essas pessoas acham que o governo do presidente Evo Morales não é sequer democrático, quando ele foi eleito com maioria enorme, em eleições supervisionadas, altamente legítimas, tem maioria no congresso e todo apoio da população. Mas essas pessoas são conservadoras e acham que a ascensão dos trabalhadores, dos índios, dos negros nos países da América Latina é algo preocupante para eles. 

CM: Há esse tipo de postura de desrespeito aos governos de origem popular no Itamaraty?

SPG: Não, creio que não. Certamente, em toda organização maior você tem pontos de vista diferente. Pessoas de todo tipo de posição política. Eu acho até que o Itamaraty, de uma forma geral, caminhou, nos últimos anos, para uma visão mais esclarecida e consciente da importância da América Latina, até por influência do ex-presidente Lula.

CM: Do Itamaraty do ex-presidente Lula para o da presidenta Dilma, houve perda do protagonismo do Brasil na região?

SPG: O protagonismo de um país depende muito do presidente da república, da ênfase que este presidente dá aos lugares onde vai, que ele prestigia com a sua presença. O Itamaraty é um instrumento do presidente da república. Um instrumento. Faz o dia-a-dia da política, gera as informações, cumpre as determinações do presidente. O presidente Lula conferia prioridade à América do Sul, desde seu discurso de posse. E havia toda uma experiência prévia do Lula, da experiência que ele teve no passado de criar o Foro de São Paulo com os partidos políticos. Tudo isso fez com que ele tivesse relações muito estreitas com muitas lideranças da América do Sul. Ele tinha um interesse muito grande na região, achava que a América do Sul era essencial para a política externa brasileira, sem descuidar das relações com outros países. Mas essas concepções variam, e dependem muito das ações do presidente. Lula ia uma vez a cada três meses na Argentina, na Venezuela, na Bolívia. E isso ia criando um entendimento, uma compreensão política cada vez maior de cada realidade. Isso é muito importante.

CM: A presidenta Dilma se relaciona pouco com a América do Sul?

SPG: Não estou dizendo isso. Estou dizendo que cada um tem o seu estilo. E a situação também mudou um pouco. A crise internacional começa já em 2008, mesmo assim o Brasil cresceu muito. Depois é que seus efeitos foram se instalando sobre a economia brasileira. A presidenta Dilma também dá muita importância a esses temas. 

- Qual o impacto da morte do Hugo Chávez no quadro geral da região?

SPG: O presidente Chávez e o presidente Lula eram duas pessoas profundamente convencidas da importância da integração latino-americana, da importância da coordenação entre os países, da união no contexto da política internacional. O presidente Maduro tem muitos méritos, mas não é o Chávez. São pessoas diferentes. E não que ele não seja bom. O próprio Chávez julgou que ele seria o mais qualificado para sucedê-lo. E Chávez devia ter lá suas razões.

CM: Como o Lula julgou que a Dilma seria mais qualificada para sucedê-lo...

SPG: Mas as circunstâncias eram diferentes. Um estava morrendo. O outro estava vivo. (risos). Está vivo e espero que continue por muito tempo.

CM: A demissão do Antônio Patriota foi adequada?

SPG: Sim, foi adequada. Não quero dizer que o ministro Patriota conhecesse o caso ou fosse responsável direto pelo que ocorreu, mas a presidenta necessitava tomar uma atitude em relação ao governo da Bolívia. E a demissão do ministro – que é um auxiliar da presidenta – é conveniente. Sou amigo do Patriota, quero deixar isso claro, mas as questões são políticas, não pessoais. A coisa se colocou de uma tal forma que a decisão dela foi acertada porque permite que o novo ministro entre em contato com as autoridades da Bolívia sem ter nenhum passado de nenhuma natureza. Foi uma medida politicamente importante. 

CM: Cria-se um precedente preocupante? Qualquer criminoso comum pode pedir asilo em uma embaixada?

SPG: Acho que não cria precedente não porque qualquer cidadão já pode pedir asilo. Depende da embaixada conceder o asilo ou não.

CM: A decisão de conceder asilo é da embaixada? Passa pelo presidente?

SPG: Não necessariamente, porque muitas vezes quando o presidente é comunicado ela já ocorreu de fato.

CM: É tradição da diplomacia brasileira acolher qualquer um que peça asilo?

SPG: Não me lembro de nenhuma recusa. Mas este caso do senador Roger Pinto é complexo porque, mesmo acusado de corrupção, ele é um político de oposição, de forte oposição. Então, as coisas se misturam. De qualquer forma, uma coisa é conceder o asilo e outra é organizar uma fuga. 

CM: É possível um diplomata, sozinho, patrocinar uma fuga dessas?

SPG: Eu não sei. O que li nos jornais é que foram carros da embaixada, acompanhados por fuzileiros navais. 

CM: Concedido o asilo, o país pode voltar atrás?

SPG: Pode, claro. Pode haver também um pedido de extradição. A decisão é do Executivo, como ocorreu no caso Cesare Battisti. O judiciário pode examinar, mas o próprio judiciário brasileiro chegou a conclusão de que a prerrogativa é do Executivo. E é importante observar que estas questões tem alcance limitado após certo tempo. Ninguém mais fala em caso Battisti, nem fala mais que isso prejudicaria a relação do Brasil com a Itália.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje! E nenhuma gritaria.

 Médicos cubanos: avança a  integração  da América Latina!

                       “O que brilha com luz própria , ninguém pode apagar

                        Seu brilho pode alcançar a escuridão de outras costas

                        Que pagará este pesar do tempo que se perdeu….

                        Das vidas que nos custou e das que nos podem custar..

                        Ou pagará a unidade dos povos em questão….

                        E a quem negar esta razão, a história condenará…”

 

 (Canción por La Unidad Latinoamericana)

                        Pablo Milanez

Não faltaram emoção, lágrimas e dignidade na chegada dos 176 médicos cubanos, que desembarcaram neste sábado à noite em Brasília, para um trabalho indispensável em municípios brasileiros, mais de 700, ainda sem qualquer assistência médica.  

Quando aqueles cidadãos cubanos, muitos deles negros, muitas mulheres, com bandeirolas brasileiras e cubanas nas mãos, pisaram  o solo brasileiro,  ali estava o retrato do enorme progresso social, educacional e sanitário alcançado pela Revolução Cubana. 

Mas, também, uma prova concreta de que a integração da América Latina está avançando; não é só comércio, é também  saúde. 

O Brasil coopera com Cuba na construção do Complexo Portuário de Mariel  -   sua  mais importante obra de infra-estrutura  atualmente  – e Cuba coopera com o Brasil preenchendo uma lacuna imensa, a falta de médicos.

A campanha conservadora contra a integração latino-americana sofrerá um revés tremendo quando o programa Mais Médicos ,  começar a apresentar seus efeitos concretos. 

Esses resultados terão a força para revelar o teor medieval  das críticas feitas pelas representações médicas e pela mídia teleguiada pelos publicidade da indústria farmacêutica.

Volumosa desinformação

Tendo em vista o volume de desinformação que circulou contra a vinda de médicos estrangeiros,  mas contra os médicos cubanos em especial, é obrigatório travar a batalha das idéias, primeiramente, em defesa da Revolução Cubana como uma conquista de toda a humanidade. 

Cercada, sabotada, agredida, a Revolução Cubana,  que antes de 1959,  possuía os mais tenebrosos indicadores sociais,  analfabetismo massivo, mortalidade infantil indecente, desemprego e atraso social generalizado, consegue libertar-se da condição de colônia, e, mesmo sem ter uma base industrial como a brasileira, por exemplo,  e passa a exportar médicos, professores, vacinas, desportistas.

Exporta, principalmente, exemplos!

Esse salto histórico da Revolução Cubana deixa desconcertada a crítica, seja  emanada pela mídia colonizada  pelas lucrativas transnacionais fabricantes de fármacos ou equipamentos hospitalares, seja a crítica oligarquia difundida pelas representações médicas. 

Os que questionam a qualidade da formação profissional dos médicos cubanos são desafiados a responder por que a mortalidade infantil em Cuba é das mais baixas do mundo, sendo inferior, inclusive, àquela registrada no Estado de Washington, nos EUA? 

         Cuba e a libertação africana

Vale lembrar que Cuba possuía, antes de 1959, pouco mais de 6 mil médicos, dos quais, a metade deixou o país porque não queria perder privilégios, nem concordava com a socialização da saúde. 

Apenas cinco décadas depois, é esta mesma Cuba que tem capacidade de exportar milhares de médicos para socorrer o povo brasileiro de uma indigência   grave construída por um sistema de saúde ainda determinado pelos poderosos interesses das indústrias hospitalar, farmacêutica e de equipamentos, privilegiando a noção de uma medicina como um negócio, uma atividade empresarial a mais, não como um direito, como determina nossa constituição.

Já em 1963, quando a Revolução na Argélia precisou, iniciou-se a prática de cubana de enviar brigadas médicos aos povos irmãos. 

Ensanguentada pela herança da dominação francesa, a Revolução Argelina encontrou em Cuba a fraternidade concreta, quando ainda não havia na Ilha um contingente médico tão numeroso como o existente atualmente. 

Predominou sempre na Revolução Cubana a idéia de que em matéria de solidariedade internacional comparte-se o que se  tem, não o que lhe sobra. 

Foi exatamente ali na Argélia que se estabeleceram laços indestrutíveis entre a  Revolução Cubana e os diversos movimentos de libertação da África. 

A partir daí, Cuba participou com  brigadas militares e médicas em diversos processos de libertação nacional do continente. 

De tal sorte que, em 1966, a primeira campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no Congo, foi organizada por médicos cubanos! 

Os CRMs conhecem esta informação? Sabem que a poliomielite foi erradicada em Cuba décadas antes do Brasil fazê-lo?

 Será o Revalida capaz de avaliar a dimensão libertadora da medicina cubana?

Quando Angola foi invadida por tropas do exército racista da África do Sul [década de 1970], baseado nas supremas leis do internacionalismo proletário, Agostinho Neto, presidente angolano, também médico e poeta, solicita a Fidel Castro ajuda militar para garantir a soberania da nação africana.

 Uma das mais monumentais obras de solidariedade foi realizada por Cuba que, ao todo, enviou a Angola, cerca de 400 mil homens e mulheres para, ao lado dos angolanos e namíbios, expulsar as tropas imperialistas sul-africanas tanto de Angola como da Namíbia. 

E sob a ameaça de uma bomba atômica, que Israel ofereceu à  África do Sul, argumentando que as tropas cubanas tinham que ser dizimadas porque pretendiam chegar até Pretória….. Na heroica Batalha de Cuito Cuanavale  -  que todos os jornalistas, historiadores, militantes deveriam conhecer a fundo   –   lá estavam as tropas cubanas, mas lá estavam também as brigadas médicas de Cuba, que se espalharam por várias pontos de Angola. 

A vitória de Angola e da Namíbia contra a invasão da África do Sul,  foi também a derrota do regime do Apartheid. 

Citemos Mandela:

“ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid.  Devemos o fim do Apartheid a Cuba!”.

Qual exame Revalida será capaz de dimensionar adequadamente o desempenho de um médico cubano em Cuito Cuanavale, com sua maleta de instrumentos numa das mãos e na outra uma metralhadora, livrando a humanidade da crueldade do Apartheid?  

Como dimensionar o bem que o fim do Apartheid, com a decisiva participação cubana, proporcionou  para a saúde social da História da Humanidade?

    As crianças de Chernobyl em Cuba

O sentido de solidariedade internacionalista está tão plasmado na sociedade cubana que, quando aquele terrível acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986,   o estado cubano recebeu, das organizações dos Pioneiros  -   que congregam crianças e adolescentes cubanos  -   a proposta de oferecer tratamento médico às crianças contaminadas pela radioatividade vazada no desastre. 

Um documentário realizado pelo extinto Programa Estação Ciência, dirigido pelo jornalista Hélio Doyle, exibido com freqüência TV Cidade Livre de Brasília, registra como Cuba compartilhou seus recursos médicos e hospitalares, mas, sobretudo, sua fraterna solidariedade com cerca de 3 mil crianças russas que foram levadas para tratamento na Ilha, nas instalações dos Pioneiros, em Tarará.  

Destaque-se, primeiramente, que a ideia partiu dos Pioneiros. Segundo, que Cuba não se colocava na condição de doadora, mas apenas cumprindo um dever solidário. 

Lembravam que o povo soviético havia sido solidário com Cuba quando os EUA iniciaram o bloqueio contra a Ilha cortando a cota de petróleo e do açúcar, suspendendo o comércio bilateral, na década de 60. 

A URSS passou a comprar todo o açúcar cubano, pelo dobro do preço do mercado internacional, e a abastecer Cuba de petróleo, pela metade do preço de mercado mundial. 

São páginas escritas, em uma outra lógica, solidária, fraterna, socialista. É de se imaginar o quanto os dirigentes das representações médicas brasileiras poderiam aprender com aquelas crianças cubanas que ofertaram tratamento às 3 mil crianças russas, um contingente menor que o de médicos cubanos que virão para o Brasil?

                                                                Impublicável

A cooperação entre Brasil e Cuba em matéria de saúde não está iniciando-se agora. 

Durante o governo Sarney, recém re-estabelecidas as relações bilaterais, em 1986,  foram as vacinas cubanas contra a meningite que permitiram ao  nosso país enfrentar aquele surto. 

Na época, a mídia teleguiada também fez uma sórdida campanha contra o governo Sarney, primeiro por reatar as relações, mas também por comprar grandes lotes da vacina desenvolvimento pela avançada ciência de Cuba.

  De modo venenoso, tentou-se desqualificar as vacinas, afirmando serem de qualidade duvidosa, tal como agora atacam a medicina cubana.  Na época, foram as vacinas cubanas que permitiram controlar aquele surto e salvar vidas. 

Mas, também trouxeram, por meio do exemplo, a possibilidade de que aprendêssemos um pouco dos valores e das conquistas de uma revolução. 

Afinal, por que um país com poucos recursos, com uma base industrial muito mais reduzida, conseguia não apenas elevar vertiginosamente o padrão de saúde de seu povo, mas, também desenvolver uma tecnologia com capacidade para  produzir e exportar vacinas, enquanto o Brasil, com uma indústria muito mais expandida, capaz de produzir carros, navios e aviões,  não tinha capacidade para defender seu próprio povo de um surto de meningite? 

São sagradas as prioridades de uma revolução. E é por isso, que, ainda hoje, a sexta maior economia do mundo,  se vê na obrigação de recorrer a Cuba para  não permitir a continuidade de um crime social configurado na não prestação de  atendimento médico a milhões de brasileiros.

Mais recentemente, quando a Organização Mundial da Saúde convocou a indústria farmacêutica internacional a produzir vacinas para combater um tenebroso surto de febre amarela  que se espalhou pela África, obteve como resposta desta indústria o mais sonoro e insensível NÃO. 

Os preços que a OMS podia pagar pelas vacinas não eram, segundo as transnacionais farmacêuticas, apetitosos.

  Milhões de vidas africanas passaram correr risco, não fosse a cooperação entre dois laboratórios estatais, o Instituto Bio Manguinhos, brasileiro, e o  Instituto Finley, cubano. 

Essa cooperação permitiu a produção, até o momento, de 19 milhões de doses da vacina que a África necessitava, a um preço 90 por cento menor que o preço do mercado internacional. Onde foi publicada esta informação?

Apenas na Telesur e na imprensa cubana. A ditadura dos anúncios da indústria farmacêutica, que dita a linha editorial da mídia  brasileira em relação ao programa Mais Médicos e à cooperação da Medicina de Cuba, simplesmente impediu que o grande público brasileiro tomasse conhecimento desta importantíssima cooperação estatal brasileiro-cubana. 

Os médicos cubanos e o furacão Katrina

Para dimensionar a inqualificável onda de insultos que os médicos cubanos vêm recebendo aqui na mídia oligárquica, lembremos um fato também sonegado por esta mesma mídia, o que revela suas dificuldades monumentais para o exercício do jornalismo como missão pública. 

Quando ocorre o trágico furacão Katrina, que devasta Nova Orleans, deixando uma população negra e pobre ao abandono, dada a incapacidade e o desinteresse do governo dos EUA naquela oportunidade, em prestar-lhe socorro,  também foi Cuba que colocou  à disposição  do governo estadunidense   -   malgrado toda a hostilidade ilegal deste para com a Ilha   -   um contingente de 1300  médicos ,  postados no Aeroporto de Havana, com capacidade de chegar e prestar ajuda à população afetada pelo furacão. 

Aguardavam apenas autorização para o embarque, e  em questão de 3 horas de vôo estariam em Nova Orleans salvando vidas. 

Esta autorização nunca chegou da Casa Branca.  A resposta animalesca do presidente George Bush foi um sonoro NÃO  à oferta de Cuba, o que tampouco foi divulgado pela mídia oligárquica, provavelmente para protegê-lo do vexame de ver difundido seu tosco caráter,  que tal recusa representava. 

Os Eua estão sempre prontos para enviar militares e mercenários pelo mundo. Mas, são incapazes de prestar ajuda ao seu próprio povo, e também arrogantes o suficiente para permitir uma ajuda de Cuba à população pobre e negra afetada pelo furacão.

 Uma Escola de Medicina para outros povos

Também não circulam informações aqui de que Cuba, após o furacão Mity, que devastou a America Central e parte do Caribe, decide montar uma Escola Latino-americana de Medicina, que, em pouco mais de 10 anos de funcionamento, já formou mais de 10 mil médicos estrangeiros, gratuitamente. 

Entre eles,  500 jovens negros e pobres dos EUA, moradores dos bairros do Harlem e do Brooklin. 

Eles me revelaram que se tivessem continuado a viver ali, eram fortes candidatos a serem presa fácil do narcotráfico. 

Frisavam que, estar ali em Cuba, formando-se em medicina, gratuitamente, era uma possibilidade que a maior potência capitalista do mundo não lhes oferecia. 

Há,  estudando na ELAM, cerca de uma centena de jovens do MST, filhos de assentados da reforma agrária.  Isto significa que Cuba compartilha com vários países do mundo seus modestos recursos. 

Também estudam lá cerca de 600 jovens do Timor Leste, sendo que existem 40 médicos cubanos trabalhando já agora no Timor. O tipo de exame Revalida seria capaz de dimensionar esta solidariedade cubana com a saúde dos povos?

     Ampliar a integração em outras áreas

Também não se divulgou por aqui,  que Cuba montou três Faculdades de Medicina na África, (Eritreia, Gambia e Guiné Equatorial),  em pleno funcionamento, com professores cubanos. 

Toda esta campanha de insultos contra Cuba e os médicos cubanos, abre uma boa possibilidade para discutir e conhecer  mais a fundo todas estas conquistas da Revolução Cubana, mas, especialmente, para que as forcas progressistas  reflitam sobre quantas outras possibilidades de cooperação existem entre Brasil e Cuba, em muitas outras áreas.

Mas, serve também para reavaliar a posição de certos parlamentares médicos da esquerda no Brasil que se opõe,  inexplicavelmente, ao Programa Mais Médicos, alguns chegando, ao  absurdo de terem apresentado  projetos de lei proibindo, pelo prazo de 10 anos, a abertura de qualquer novo curso de medicina no Brasil.

    Qualificar o debate sobre a integração

Enfim, um debate democrático e qualificado em torno do programa Mais Médicos, da presença de médicos cubanos aqui no Brasil e em mais de 70 países, e também, sobre as conquistas da Revolução Cubana, deve ser organizado pelos partidos e sindicatos, pelo movimento estudantil, pelos movimentos sociais, pela Solidariedade a Cuba, pelas TVs e rádios comunitárias, como forma de impulsionar a integração da America Latina, que, neste episódio, está demonstrando o quanto pode ser útil à população mais pobre. 

A TV Brasil pode cumprir uma função muito útil, pode divulgar documentários já existentes sobre o trabalho de médicos em regiões inóspitas e adversas em diversos países.

É preciso expandir esta integração, avançar pela educação, pela informação, não havendo justificativas para que o Brasil ainda  não esteja conectado com a Telessur, por exemplo, que divulgado amplo material jornalístico informando que 3 milhões e meio de cidadãos latino-americanos já foram salvos da cegueira graças a Operação Milagro,  pela qual médicos cubanos e venezuelanos realizam, gratuitamente, cirurgias de cataratas em vários países da região. 

Enquanto o povo argentino, por exemplo, já  pode sintonizar gratuitamente a Telesur e informar-se de tudo isto, o povo brasileiro está impedido, praticamente, de receber informações que revelam o andamento da integração da America Latina. 

Mas, com a chegada dos médicos cubanos, a integração será cada vez mais pauta da agenda do debate político nacional e  receberá , certamente,  um impulso político e social, notável, pois o povo brasileiro, saberá , com nobreza e humanismo, valorizar e apoiar o programa Mais Médicos. 

Aliás, é exatamente  isto o que tanto apavora a medicina capitalista.

   Há 70 mil engenheiros estrangeiros no Brasil hoje!

Segundo dados recentes do Ministério do Trabalho, existem hoje trabalhando no Brasil cerca de 70 mil engenheiros estrangeiros. 

Nenhuma gritaria foi feita. Neste caso, trata-se de petróleo e outros projetos, muito lucrativos para as multinacionais. 

Mas, quando se trata de salvar vidas, acendem-se todas as fogueiras do inferno da nova inquisição contra uma cooperação que é lógica e indispensável, solidária e humanitária. 

Por que é aceitável  a importação de telefones, equipamentos médicos, remédios, cosméticos, roupas, caviar, bebidas, vacinas e não se aceita a cooperação de médicos de Cuba, sendo este o único pais  em condições  objetivas  de apresentar-se prontamente e de maneira eficaz com profissionais experimentados.  

Será que as representações médicas brasileiras possuem sequer uma remota idéia de que estão proferindo insultos a esta bela história da medicina  socialista de Cuba? 

       Quem pagará a conta da demora?

A presidenta Dilma tem inteira razão em convocar os Médicos Cubanos, algo que já poderia ter sido feito há mais tempo, amenizando a dor e o sofrimento de milhões de brasileiros abandonados por um sistema de saúde e por uma mentalidade de parcelas das representações médicas que, por mais absurdo que pareça, ainda tentam justificar este abandono. 

Aliás, com a determinação da presidenta Dilma está absolutamente revelada a importância da integração da América Latina, não havendo justificativas para que esta modalidade de integração nas esferas sociais,  não avance também para outras áreas, como a educação, por exemplo. 

Foi exatamente com o método cubano denominado “Yo, si, puedo”,  que Venezuela, Bolívia, Equador são países declarados pela UNESCO como “Territórios Livres do Analfabetismo”, sempre com a participação direta de professores cubanos.

 Muito em breve, será a Nicarágua, que vai recuperar aquele galardão, que já havia conquistado durante a Revolução Sandinista [1979/1984] mas depois perdeu,  na era neoliberal.  

Por quanto tempo o Brasil terá apenas projetos pilotos, em apenas 3 cidades, com o método de alfabetização cubano, que, aliás, já tem absoluta comprovação e reconhecimento mundiais?  

Que espera a sexta economia do mundo em  convocar ainda mais a cooperação cubana para erradicar o analfabetismo? Quem pagará a conta desta injustificável demora?

Termino com a declaração da Dra Milagro Cárdenas Lopes,  cubana, negra, 61 anos  "Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou.  

Em seguida, dirigiu-se com seus companheiros para os ônibus organizados pelo Exército Brasileiro, que cuida de seu alojamento. 

Sinal de que a integração está escrevendo uma nova página na história da América Latina.

Beto Almeida

Diretor da Telesur                   

25 de agosto de 2013

* informações entre chaves [   ] inseridas por Luiz Carlos Orro, bem como a formatação do texto. 

sábado, 24 de agosto de 2013

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE MÉDICOS CUBANOS